4º Domingo da Páscoa

 

A figura do BOM PASTOR é uma das figuras mais antigas da iconografia católica, que representa uma grande riqueza da parábola do capítulo décimo de São João, lido todos os anos no quarto domingo da Páscoa. Neste ano litúrgico B, a figura que nos apresenta é a do Cristo que nos ama e dá a sua vida por todos nós.

Jesus se apresenta como o único capaz de guiar e salvar o povo, fazendo ao extremo amor, dando sua vida pela redenção da humanidade. E como se não bastasse dar a vida como prova de seu amor, Jesus afirma que tem o poder de retomar a vida – promessa da Ressurreição – para que, pelos seus méritos, todos tenhamos vida em plenitude por toda a eternidade.

A figura do BOM PASTOR é a mesma figura de JESUS SALVADOR. O povo que ouviu o Divino Mestre conhecia bem a vida dos pastores, tendo em vista que o povo era de origem rural. O pastor era aquele que conduzia as suas ovelhas até às verdes pastagens, como poeticamente descreve o Salmista. Ser um bom pastor é ser aquele

que apresenta às ovelhas, ou seja, ao povo de Deus, a Salvação que nos veio pela Morte do Senhor Jesus, confirmada em sua Ressurreição.

Por isso, a Missa de hoje, especialmente, tem um significado de salvação, de céu, de vida eterna, de amizade permanente com Deus. E nós só alcançaremos este pedacinho de céu ouvindo, colocando em prática os ensinamentos de JESUS, confirmados diuturnamente e reafirmados pela ação pastoral do CRISTO BOM PASTOR pelo seu Vigário, o Papa, pelos Bispos, e pelos Párocos em cada comunidade de fiel.

Caros irmãos,

A Primeira Leitura – At 4,8-12, é uma magnífica catequese destinada aos batizados, mostrando-lhes como se deve concretizar o testemunho dos discípulos, encarregados por Jesus de levar a sua proposta libertadora a todos os homens. Antes de mais, Lucas observa que São Pedro está “cheio do Espírito Santo” (vers. 8). Os cristãos não estão sozinhos e abandonados quando enfrentam o mundo para lhes anunciar a salvação. É o Espírito Santo que conduz os discípulos na sua missão e que orienta o seu testemunho. Cumpre-se, assim, a promessa que Jesus havia feito aos discípulos:

“quando vos levarem às sinagogas, aos magistrados e às autoridades, não vos preocupeis com o que haveis de dizer em vossa defesa, pois o Espírito Santo vos ensinará, no momento próprio, o que haveis de dizer” (Lc 12,11-12). “Cheio do Espírito Santo”, Pedro – aqui no papel de paradigma do discípulo que testemunha Jesus e o seu projeto diante do mundo – transforma-se de réu em acusador… Os dirigentes judaicos, barricados atrás dos seus preconceitos e interesses pessoais, catalogaram a proposta de Jesus como uma proposta contrária aos desígnios de Deus e assassinaram Jesus; mas a ressurreição demonstrou que Jesus veio de Deus e que o projeto que Ele apresentou tem o selo de garantia de Deus.

Pedro não recua diante de seus acusadores, pois está investido da força do Espírito Santo. Pedro diz com clareza em nome de quem o enfermo foi curado: daquele que os judeus crucificaram, mas foi ressuscitado por Deus, Jesus Cristo. Essa coragem traz ainda outra

mensagem: Deus não compactou com a maldade dos judeus que mataram Jesus, pedra rejeitada pelos construtores, outrossim, fez de Jesus a pedra angular. É uma referência explícita ao Salmo 117(118), 22, cantado neste domingo como Salmo Responsorial. Por isso, Jesus passa a ser, no plano salvífico, o fundamento estabelecido por Deus ao qual todos vão se integrando para nele encontrar salvação.

Meus irmãos,

O Bom Pastor é o próprio Cristo. Como tal, morreu na cruz pela salvação da humanidade. Aqui reside, pois, a novidade cristã: o verdadeiro, o bom, o justo e o santo pastor é capaz de morrer para que suas ovelhas tenham vida e a tenham em abundância.

No Santo Evangelho(cf. Jo 10,11-18) desta celebração, Jesus fala do empregado mercenário e do dono das ovelhas. Ora, sabe-se que o dono, comumente, é quem cuida melhor de seu rebanho. O empregado, por mais dedicado que seja, sempre deixará a desejar. Essa exposição, de forma muito didática, apresenta-nos o cuidado como Jesus tem para conosco, que constituímos sua grei. Desta forma, Jesus tratará aqueles que aderirem ao projeto de salvação.

A figura do pastor está presente nas Sagradas Escrituras desde os seus primórdios. Abel foi pastor. Pastores também foram os patriarcas Abraão, Isaac e Jacó. Todos tiveram que caminhar longos trechos com o rebanho pela Palestina afora, a procura de comida e de água. Além das grandes caminhadas, tinham que dormir com suas ovelhas, sendo necessário um rodízio para livrar-se dos assaltados dos ladrões e lobos famintos.

Assim como os pastores do Antigo Testamento agiram, age Jesus conosco. Como Bom Pastor, ele tem coragem de lutar pela salvação de suas ovelhas, para que não se perca nenhuma delas. Jesus morreu pelas suas ovelhas, irrompendo a morte ao terceiro dia, assegurando a vida eterna a todas as suas ovelhas: o bom e generoso Pastor que morre para dar vida, e vida plena, a suas ovelhas.

Meus irmãos e minhas irmãs,

A salvação que entra em nossa casa pela parábola do Bom Pastor é cheia de simbolismos e de significados festivos. O céu é uma festa permanente, onde não há distinção mesquinha do mundo moderno, de dinheiro, de poder, de prazer. No céu, há a edificação de uma comunidade de fiéis que partilham tudo em comum, um se preocupando com o outro, como o Pastor se preocupa com as suas ovelhas.

A figura do pastor vai mais longe do que o significado profissional. Compreenderam que significava pastor como guia, como condutor, como legislador, mas o Bom Pastor é aquele que mostra o caminho do povo para a vida eterna, para a salvação.

Meus amigos,

Todas as nossas aflições devem ser depositadas nas mãos do Senhor Jesus, do Senhor BOM PASTOR.

Assim canta a liturgia: “O Senhor é meu Pastor, nada me faltará” (Sl 23,1). Depositando nas mãos de Deus a confiança de nossa vida, de nossa caminhada eclesial, de nosso engajamento nas missões populares que se desenvolvem em nossa Igreja Particular, de nosso engajamento no projeto do Céu que é a salvação, todos nós comeremos do alimento que brota das verdes pastagens de Jesus: a santa EUCARISTIA.

Verdes pastagens é beber o sangue e comer o corpo de Jesus pela Eucaristia, presença permanente do Bom Pastor que conduz a vida da Igreja, a vida da comunidade e a nossa vida pessoal. Conhecer a Deus tem um significado eminentemente pastoral: uma vida religiosa, moral e social do cristão voltada para a mensagem de Deus, contida nos Evangelhos e vivida à luz da Tradição e da práxis da Santa Igreja de Cristo.

Meus irmãos,

A atuação dos primeiros cristãos em Jerusalém – conforme vemos na Primeira Leitura – deve ser entendida a partir de Jesus Cristo e de sua atuação. Pedro e João são presos e levados diante do Sinédrio. Este pergunta em que nome eles anunciam o chamado Evangelho e que agem. Complexo de instituições autoritárias, o Sinédrio não permite que alguém aja por conta própria, a não ser pelos interesses de seus membros. Mas os Apóstolos não agiam por conta própria: “No nome de Jesus Cristo Nazareno, crucificado por vós, mas ressuscitado por Deus… Em nenhum outro nome há salvação, pois nenhum outro nome foi dado sob o céu por quem possamos ser salvos” (At 4,10-12).

Esta é a conclusão do sinal do aleijado da Porta Formosa: a cura que lhe ocorreu significava a vida em Jesus Cristo. Esta deve também ser a conclusão de todo agir cristão no mundo; todo nosso agir deve ser: dar a vida de Cristo ao mundo, pelo testemunho do amor e o convite à participação deste mesmo amor, do qual Jesus nos fez participar, dando sua vida pelos seus amigos.

Caros irmãos,

Nos dias atuais se fala muito de Pastor, de Pastores, ou infelizmente, de falsos pastores que são como lobos. Observemos como Cristo desempenha a sua missão de “Pastor”: Ele não atua por interesse (como acontece com outros pastores, que apenas procuram explorar o rebanho e usá-lo em benefício próprio), mas por amor. Jesus, o Bom Pastor, não foge quando as ovelhas estão em perigo, mas defende-as, preocupa-Se com elas e até é capaz de dar a vida por elas. Jesus, o Bom Pastor mantém com cada uma das ovelhas uma relação única, especial, pessoal, conhece os seus sofrimentos, dramas, sonhos e esperanças. As “qualidades” de Cristo, o Bom Pastor, aqui enumeradas, devem fazer-nos perceber que podemos confiar integral e incondicionalmente n’Ele e entregar, sem receio, a nossa vida nas suas mãos. Por outro lado, este “jeito” de atuar de Cristo deve ser uma referência para aqueles que têm responsabilidades na condução e animação do Povo de Deus: aqueles que receberam de Deus a missão de presidir a um grupo, de animar uma comunidade, devem, evidentemente, exercer a sua missão no dom total, no amor incondicional, no serviço desinteressado, a exemplo de Cristo.

Caros irmãos,

No Evangelho, o verbo conhecer aparece quatro vezes, sem contar a aclamação ao Evangelho, na qual ocorre duas vezes. O conhecimento de que fala João é um conhecimento pessoal, íntimo, que supõe a relação de escuta da Palavra de Deus(cf. Jo 10,3-5). É conhecimento calcado no amor e na relação que o próprio Jesus tem com o Pai. Esse conhecimento está fundado na fidelidade. Jesus obedece ao Pai porque está atento à ordem que dele recebeu: dar a vida por suas ovelhas. É esta a conclusão da alegoria apresentada por Jesus: o Bom Pastor tem autonomia para fazer a vontade do Pai, dando a vida voluntariamente(na sua morte) para poder retomá-la(ressurreição). E essa conclusão elucida o vínculo entre a figura do Bom Pastor e o tempo pascal.

A dignidade de “filhos de Deus” não pode ser mero discurso em nossas comunidades. Precisamos assumir, nas ações, esse lugar de filhos e filhas amados por Deus. Consequentemente, viver como irmãos uns dos outros, na prática do amor, do perdão e da misericórdia.

Recordar o Bom Pastor é saber-nos cuidados por Deus. Vivemos em uma sociedade que gera exaustão, pelo volume de atividades, informações e velocidade. Não podemos nos esquecer do refúgio nos braços desse pastor que dá a vida por nós. Um espaço onde repousamos e restauramos nossas forças.

No entanto, também temos o compromisso de cuidar uns dos outros e ser sinais do Bom Pastor para as pessoas. Esse é o sentido de “fazer” pastoral. Não se trata tanto de multiplicar atividades e encher a agenda de tarefas, mas, sobretudo, de cuidar bem das pessoas e empenhar os meios em prol disso. Desse modo, a Igreja se torna o lugar do cuidado, da fraternidade e da vivência dos filhos e filhas de Deus.

Meus irmãos,

A Segunda Leitura de hoje é retirada de 1Jo 3,1-2. O autor desta carta recorda aos cristãos que Deus os constituiu seus “filhos”. O fundamento para essa filiação reside no grande amor de Deus pelos homens (vers. 1a). O título de “filhos de Deus” que os batizados ostentam não é um título pomposo, mas externo e sem conteúdo; é um título apropriado, que define a situação daqueles que são amados por Deus com um amor “admirável” e que receberam de Deus a vida nova. Evidentemente, a condição de “filhos” implica estar em comunhão com Deus e viver de forma coerente com as suas propostas. Os “filhos de Deus” realizam as obras de Deus (um pouco mais à frente, num desenvolvimento que não aparece na leitura que a liturgia de hoje propõe, o autor da carta contrapõe aos “filhos de Deus” os “filhos do diabo” – que são aqueles que rejeitam a vida nova de Deus, não praticam “a justiça, nem amam o seu irmão” – cf. 1 Jo 3,7-10).

A vida que Jesus nos dá é o amor do Pai, que nos faz viver verdadeiramente e nos torna seus filhos. Já agora, temos certa experiência disso na prática deste amor que nos foi dado. Mas essa experiência é ainda inicial, conforme anuncia a Segunda Leitura. Manifestar-se-á plenamente quando o Cristo for completamente manifestado na sua glória. Então, seremos semelhantes a Ele. Desde já, nossa participação desta vida divina nos coloca numa situação à parte: na comunidade do amor fraterno, que o mundo não quer conhecer e, por isso, rejeita (1Jo 3,1c). É a “diferença cristã”.

O primeiro fundamento da vida cristã está na própria relação filial de Jesus com o Pai. Em Jesus, o discípulo experimenta essa mesma relação com Deus, pois ele se assemelha. Por isso, o apóstolo fala de “um grande presente de amor”(1Jo 3,1). Trata-se do mesmo amor que o Pai dedica a seu Filho, Jesus.

Alegremos no Senhor fazendo o bem, mesmo quando encontramos oposição. Isso enriquece a nossa vida, porque o amor de Jesus é Salvação, é Páscoa, é Ressurreição. Amém!

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