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13° DOMINGO DO TEMPO COMUM, C.

escrito por Padre Wagner Augusto Portugal

“Povos todos, aplaudi e aclamai a Deus com brados de alegria”(Sl. 46,2)

Meus queridos Irmãos,

No domingo passado Jesus anunciou de que modo ele seria o Messias, o “líder”; e convocou a todos para assumirem sua cruz no dia-a-dia do Seu Seguimento. Hoje, por conseguinte, vemos Jesus dirigir seus passos em direção de Jerusalém, pois, “completaram-se os dias para ser arrebatado”(cf. Lc 9, 51).

Jesus costumava subir todos os anos a Jerusalém. O Evangelho de hoje(cf. Lc 9,51-62) é o início da grande viagem. Nesta viagem vai aparecendo e se revelando o mistério da pessoa e da missão de Jesus e as qualidades que o Ministro deve ter.

Como “estava para completar-se o tempo da consumação”(Lc 9, 51), ou seja, indicando o sofrimento e a glória ao mesmo tempo em que Jerusalém é apontada, deixando de ser pensada apenas como cidade, torna-se sinônimo de paixão, morte, ressurreição e ascensão de Jesus. Na Cruz, o Senhor Jesus dirá: “Tudo está consumado”(cf. Jo 19,20). Em Jerusalém será elevado à Cruz e elevado aos céus. (cf. Lc 24,50). Em Jerusalém começara a Igreja, corpo vivo do Senhor! (cf. 1 Cor 12,24).

Caros irmãos,

A Primeira Leitura deste domingo(cf. 1Rs 19,16b.19-21) demonstra a radicalidade do seguimento do profeta. Com vistas ao tema do Evangelho, narra-se a vocação de Eliseu para seguir Elias. A indicação de Josué, por Moisés(cf. Nm 28,18-19), acontece pela imposição das mãos; de modo semelhante, Elias estende seu manto sobre Eliseu para o indicar como seu sucessor. A resposta de Eliseu é radical: despede-se logo de sua família e sacrifica sua junta de bois, para seguir, completamente livre, a Elias. A exigência de Jesus será mais radical ainda, conforme veremos no Evangelho de hoje, já antecipado no Salmo Responsorial: “Ó Senhor, sois minha herança para sempre”.(cf. Sl. 15).

A história da salvação é uma história de um Deus que, discretamente, sem se impor nem dar espetáculo, age no mundo e concretiza os seus planos de salvação através dos homens que Ele chama. É como se Ele nos dissesse como fazer as coisas, mas respeitasse o nosso caminho e Se escondesse por detrás de nós. É necessário ter em conta que somos os instrumentos de Deus para construir a história, até que o nosso mundo chegue a ser esse “mundo bom” que Deus sonhou.

A história de Eliseu é a história de cada um de nós e dos apelos que Deus nos faz, no sentido de nos disponibilizarmos para a missão que Ele nos quer confiar, quer no mundo, quer na nossa comunidade cristã.

Hoje nós somos chamados a contemplar a disponibilidade de Eliseu e a forma radical como ele acolheu o desafio de Deus. A referência à morte dos bois, ao desmantelamento do arado (cuja madeira serviu para assar a carne dos animais) e ao banquete de despedida oferecido à família significa que o profeta resolveu “cortar todas as amarras”, pois queria oferecer-se, radicalmente, ao projeto de Deus. É esse corte radical com o passado e essa entrega definitiva à missão que nos questiona e interpela.

Caros irmãos,

A Segunda Leitura(cf. Gl. 5,1.13-18) nos coloca diante da liberdade cristã. Na época em que viveu São Paulo, as tradições do judaísmo colocavam a liberdade cristã em perigo. Hoje são outras forças que fazem isso. Mas todas essas ameaças são “carne”, o contrário do Espírito. Jesus nos convida à liberdade que se revela nele mesmo: sendo livre, pode dar a sua vida por nós.

Os Gálatas estão profundamente perturbados por esses “judaizantes” para quem os rituais da Lei de Moisés também são necessários para chegar à vida em plenitude (“salvação”); e São Paulo – para quem “Cristo basta” e para quem as obras da Lei já não dizem nada – procura fazer com que os Gálatas não se sujeitem mais à escravidão, nomeadamente à escravidão dos ritos e das leis. O texto que nos é proposto aparece na parte final da Carta. É o início de uma reflexão sobre a verdadeira liberdade, que é fruto do Espírito.

Os homens e mulheres de hoje tem um grande apreço pela liberdade. Mais uma liberdade que se define erroneamente a partir do “eu”, de fazer o que “eu quero”, por isso esta falsa liberdade gera o egoísmo, o individualismo, o isolamento, o orgulho, a autossuficiência e, portanto, a escravidão. São Paulo nos ensina, com veemência, que só se é verdadeiramente livre quando se ama. Aí, eu não me agarro a nada do que é meu, deixo de viver obcecado comigo e com os meus interesses e estou sempre disponível – totalmente disponível – para me partilhar com os meus irmãos. É esta experiência de liberdade que fazem hoje tantas pessoas que não guardam a própria vida para si próprias, mas fazem dela uma oferta de amor aos irmãos mais necessitados. Ser livre e participar de uma comunidade eclesial que vive a liberdade cristã é viver voltada para o amor, para a partilha, para as necessidades e carências dos irmãos que estão à sua volta.

Irmãos e Irmãs,

O Evangelho de hoje(cf. Lc. 9,51-62) nos provoca a uma caminhada interior. A mesma caminhada que Jesus faz para Jerusalém. Partir do que somos até o esvaziamento completo de nós mesmos e a vivência em plenitude da vontade do Pai. É essa caminhada por dentro de nós que nos possibilita, de perto Jesus, a morrer e ressuscitar com ele e com ele ser glorificados.

Assim todos nós devemos ter presente que a vida cristã é o seguimento de Cristo. Seguir Jesus significa imitar e colocar-se atrás de Jesus para caminhar sobre seus passos. O Evangelho de hoje apresenta-nos Jesus a caminho e os discípulos caminhando com ele. Caminhada em dois âmbitos: no pó da estrada e na confusão do nosso coração. Mais importante do que tudo isso é a caminhada dentro de nós, a luta e o combate espiritual, se Jesus está na nossa frente como modelo e guia.

Seguimento de Jesus que exige de nós uma decisão, uma mudança radical de vida para seguirmos a Jesus, para caminharmos com Jesus, para sermos santos e cumprimos a nossa missão de anunciar o Evangelho a todas as criaturas.

Amados Irmãos,

Amados em Cristo, isto mesmo, amados em Cristo porque Jesus passou a maior parte de sua vida distribuindo o amor, vivenciando a compaixão e ensinando a perdoar.  Isso, porque entre os judeus e samaritanos existia um ódio de morte e contínuos atritos de fundo religioso, racial e político. Os samaritanos eram intrusos, sem o querer. Quando os assírios destruíram o reino de Israel, em 722 a.C., deportaram todos os habitantes da região e, em seu lugar, trouxeram um povo pagão. Voltando os israelitas, inclusive o monoteísmo. Mas, não tendo sangue hebreu, jamais conseguiram a amizade, nem mesmo comercial, com os judeus. É, então, compreensível que os samaritanos neguem hospedagem ao grupo de Jesus pelo fato de ser evidente que estavam indo para Jerusalém.

Tudo tem o seu significado: Quando Jesus foi a primeira vez a Jerusalém, ainda no seio de Maria, para alcançar Belém, não havia lugar na hospedaria. Agora, na última ida a Jerusalém, quando deve acontecer o Natal de toda a humanidade, também não há lugar. Hospedar-se, sentar-se à mesa com alguém indicam aceitação. E Jesus não é aceito, é rejeitado. Mas sua resposta não é a violência e a vingança como querem Tiago e João. Cristo é a encarnação da misericórdia e o tempo, agora, é de perdão e salvação. O fogo que Jesus enviará não é destruidor, mas o fogo do Espírito Santo, no dia de Pentecostes, com força para “derrubar os muros da separação e da inimizade”(cf. Ef 2,14).

Irmãos e Irmãs,

Quais são as condições para seguir a Jesus? Primeiro abandonar a tudo, ao mundo e seguir a Jesus. Em segundo lugar abandonar qualquer forma de violência sobre os outros, despindo os instintos de autodefesa e vingança e revestindo-se a túnica do amor. E nisso João é um exemplo magnífico: em Jerusalém tornar-se-á o Apóstolo do amor e deixará escrito para a eternidade: “Quem não amar o irmão, a quem vê, não pode amar a Deus, a quem não vê”. (cf. 1 Jo 4,20).

Ser seguidor ou discípulo é ser desapegado. Desapego dos pais, da casa, da segurança de onde repousar o corpo e a cabeça.

Se Eliseu foi ungido por Elias e coloca-se à serviço dele. Fomos todos pela paixão, morte e ressurreição de Jesus Cristo libertados para o exercício da liberdade.

Caros irmãos,

A todos nós, batizados, que somos discípulos de Jesus, é proposto que O sigamos no “caminho” de Jerusalém, nesse “caminho” que conduz à salvação e à vida plena. Trata-se de um “caminho” que implica a renúncia a nós mesmos, aos nossos interesses, ao nosso orgulho, e um compromisso com a cruz, com a entrega da vida, com o dom de nós próprios, com o amor até às últimas consequências.

Jesus recusa, liminarmente, responder à oposição e à hostilidade do mundo com qualquer atitude de violência, de agressividade, de vingança. Por isso o “caminho do discípulo” é um caminho exigente, que implica um dom total ao “Reino”. Quem quiser seguir Jesus, não pode deter-se a pensar nas vantagens ou desvantagens materiais que isso lhe traz, nem nos interesses que deixou para trás, nem nas pessoas a quem tem de dizer adeus.

Caros irmãos e irmãs,

Todos somos chamados por Deus à vida e à santidade. A cada um Deus se revela de maneira original e convoca para viver segundo sua vontade. Ele conta conosco para irradiar seu plano de amor em atos e palavras. O profeta Elias é exemplo de disponibilidade e de dedicação ao projeto de Deus. Preocupa-se com a continuidade da missão profética e, por isso, sob a inspiração de Deus, transmite o chamado a Eliseu. Como ele, podemos nos desapegar de todas as coisas que impedem a vivência plena da vocação que Deus nos dá.

Também o Evangelho alerta para a importância de cultivar as condições para seguir Jesus: não proteger-se em “tocas” nem acomodar-se nos “ninhos” dos interesses pessoais e das instituições de poder; libertar-se das amarras econômicas e afetivas para viver a necessária e saudável autonomia no compromisso vocacional; romper com as tradições passadas para abrir-se à novidade de Deus na história presente, novidade que se manifesta por meio de sinais que nos desafiam ao compromisso em torno de um mundo de fraternidade e paz. Jesus deseja que sejamos pessoas prontas a superar o individualismo, a acomodação, a administração egoísta dos bens, a tendência a fazer somente o que nos agrada pessoalmente. São Paulo chama essas atitudes de “desejos da carne” ou de “instintos egoístas”. Sem perceber, podemos nos tornar escravos de coisas, de convenções, de aspirações que caracterizam o mundo pós-moderno. Corremos atrás do que a moda exige, mudamos constantemente de pensamento e de rumo, sob pretexto de realização pessoal. Há, porém, outro jeito de viver: sob a condução e a força do Espírito Santo. Ele nos torna livres para vivermos na simplicidade, na alegria de servir, na capacidade de amar como Jesus nos ensinou. Podem-se lembrar as diversas vocações existentes na comunidade (e no mundo), seus serviços específicos e os frutos decorrentes da doação de tantas pessoas que respondem com generosidade ao chamado de Deus.

Meus queridos Irmãos,

São Paulo, na Segunda Leitura, nos diz que fomos libertos por Cristo para vivermos na liberdade. Mas como combina essa liberdade com a severa exigência pronunciada no Evangelho? A liberdade crista é “liberdade de”e “liberdade para”. “Liberdade de”outros sistemas, valores, apegos. Liberdade de outros mestres e senhores a não ser Cristo. Não é libertinagem, pois libertinagem não é liberdade e sim escravidão de veleidades, instintos, vícios, orgulho, auto-suficiência. O cristão “é livre para” o que Cristo deseja: a dedicação ao irmão, ao próximo, ao pobre, ao maltrapilho, ao doente, ao excomungado. Livre para a corajosa transformação da exploração em fraternidade; para a verdade que afugente a mentira; para tudo o que o Espírito de Deus nos inspira.

Irmãos e Irmãs, caminhemos, pois, para Jerusalém celeste. Caminho longo. Caminho penoso. Caminho que devemos fazer dentro de nós para conseguir morrer para o pecado e buscar a santidade, o rosto sereno e radioso do Senhor. Por isso, na missa de hoje, devemos sair renovados no caminhar com Jesus rumo à liberdade e à glória. Jesus Cristo nos chama ao seu seguimento, porque Ele tem um projeto para cada um de nós. Não podemos, destarte, deixar que outras propostas nos desviem do caminho proposto por Jesus Cristo. Que nos coloquemos nos caminhos de Jesus, o Redentor!

Padre Wagner Augusto Portugal

25 de junho de 2022
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Solenidade da Natividade de São João Batista, C.

escrito por Padre Wagner Augusto Portugal

“Houve um homem enviado por Deus: o seu nome era João. Veio dar testemunho da luz e preparar para o Senhor um povo bem disposto a recebê-lo” (Cf. Jo 1,6s; Lc 1,17).

Meus queridos irmãos,

Celebramos nesta segunda-feira, a Solenidade da Natividade de São João Batista, o precursor. Aquele que anunciou o Batismo com água, antevendo que alguém – Jesus – batizaria com o Espírito Santo. Assim a temática fundamental desta solenidade é a Vocação. Todos nós somos chamados a sermos discípulos e missionários de Jesus Cristo, anunciando-O a todos os recantos e dando testemunho de nossa fé batismal. Desde o ventre materno, Deus nos escolheu para uma missão específica e cândida: ser luz para as nações, para que sua salvação chegue a todas as pessoas. A exemplo de São João Batista urge ter a consciência límpida da própria missão. A mão poderosa do Senhor estava sobre o recém-nascido João Batista, por isso, o povo hebreu se admira e se alegra com a criança, considerada um profeta de Deus.

Meus caros irmãos,

A Solenidade de São João Batista sempre foi celebrada na Igreja levando em conta o Natal de Jesus: exatamente seis meses antes. A vida e a missão de São João Batista estão intimamente unidas à vida e à missão de Jesus. O nascimento de João Batista em Ein Karem, hoje quase periferia de Jerusalém, vem envolto de mistério: filho de mãe estéril e de pai de idade avançada, é considerado desde a concepção um dom precioso de Deus e vem com uma missão divina. João Batista já não é só de sua família carnal. Ele pertence ao povo de Deus e pelo seu nome, já querido por Deus, tem uma missão de ser o arauto do Senhor Jesus. O nome do profeta é significativo, pois João significa que “Deus faz misericórdia”. A misericórdia de Deus, Batista, apelido que povo hebreu lhe deu e os Evangelhos canonizaram. Jesus o chama de Batista(Cf. Mt 11,11), os discípulos de João o chamam de Batista(Cf. Lc 7,20). Herodes Antipas o chama de Batista(Cf. Mc 6,14). Herodiádes o chama de Batista(Cf. Mc 6,24). Batista porque percorria toda a região do Jordão anunciando o batismo de conversão e ele próprio batizou Jesus de Nazaré(Cf. Mt 3,15) e contemplou no próprio Jordão a primeira epifania do Cristo: “Os céus se abriram, o Espírito de Deus desceu como uma pomba e pousou sobre ele, e do céu se ouviu uma voz que dizia ser Jesus o Filho muito amado do Pai”(Cf. Mt 3,16-17).

Irmãos caríssimos,

Muitas foram as maravilhas operadas por Deus em São João Batista: sua concepção inesperada, sua exultação no seio de Santa Isabel, sua mãe, quando a Virgem Maria, grávida de Jesus dela se aproximou, sua pregação no deserto, sua vida humilde e austeramente penitente, sua pregação profética nos caminhos do Rio Jordão, seu reconhecimento do Senhorio de Jesus e de sua missão de Messias, sua humildade e a sua profecia nos indicando os horizontes do Cristo Senhor. João, o maior nascido de mulher, nas palavras de Jesus, foi destacado pela santidade e pelo anúncio da chegada da plenitude dos tempos.

O nascimento de João Batista significou para Isabel, que era tida publicamente como estéril, como uma remissão e era preciso que todos soubessem que ela, a velha Isabel, não era mais amaldiçoada, mas uma mulher privilegiadamente abençoada pela misericórdia de Deus. A alegria pelo nascimento do Batista é uma recompensa de Deus pela fidelidade de Zacarias, nas palavras do anjo: “Ficarás alegre e contente e todos se alegrarão como seu nascimento”(Cf. Lc. 1,14). Para Zacarias o nascimento de seu filho João foi o cumprimento da promessa divina, principalmente ao recuperar a fala para confirmar o nome que o Anjo havia pedido: E o menino chamou-se João e neste momento o Pai começa a louvar a misericórdia insondável de Deus para com ele, para com Isabel e para com a sua casa.

Assim, celebramos pela Palavra de Lucas, as duas dimensões de João Batista: a humana e a divina. A dimensão humana com a alegria da família, dos parentes e dos vizinhos. Esta família é abençoada. E a dimensão divina, quando o casal Isabel e Zacarias obedecem ao anjo Gabriel, voz de Deus, e dão ao menino o nome de João, nome de nenhum de seus parentes, mas indicativo da missão do menino, porque Deus está com João Batista para cumprir a sua missão. Missão, conduzida pela própria mão de Deus, que era de anunciar a chegada do Filho de Deus, o Messias esperado, o Salvador do Mundo.

Meus irmãos,

A Primeira Leitura(cf. Is 49,1-6) nos ensina que a Pertença a Deus faz de João uma nova realização do “Servo de Deus”, um homem cuja palavra é como uma espada afiada, incômoda para quem não quer saber de Deus em sua vida. A história de João prova isso. Hoje queremos cantar o nosso hino de louvor a Deus por nos ter concedido um homem decidido, João Batista. Isso, pois, são muitas vezes que as pessoas retas e intencionadas nos ajudam a modificar os rumos de nossas existências. As palavras incômodas de São João Batista nos fazem a ver com maior clarividência nossa situação. Neste Sentido, João é luz, uma luz poderosa, embora ele não seja a luz definitiva, mas antes, a testemunha da luz. João é luz, ou testemunha da luz, sobretudo por ter apontado Cristo no meio da escuridão da humanidade incrédula. João Batista encarna, por assim dizer, Elias, que era esperado voltar antes da “visita” de Deus.

Como o Servo de Javé, João Batista foi chamado a uma especial missão, desde que foi concebido o seio de sua mãe. Como Ele, recebeu um nome, um chamamento e uma revelação. Como Ele, teve que enfrentar a dureza e o sofrimento no desempenho da missão. Por isso, a primeira leitura, retirado dos “Cânticos do Servo de Javé” adequa-se a João Batista. O verdadeiro profeta realiza a missão, confiando unicamente n’Aquele que o escolheu, chamou e enviou. E só d’Ele espera recompensa.

Por isso cantemos o “Benedictus”, o canto de ação de graças de Zacarias quando do nascimento de seu filho João(Cf. Lc. 1,68-79), pois a missão de João Batista continua necessária e atual, pois a luz que ele pregou ainda não surgiu em todos os lugares, e precisa ser anunciada nos lugares que carecem desta luz.

Caros irmãos,

A segunda leitura(At 13,22-26) mostra que em Antioquia o discurso de Paulo, com explícita referência a João Batista, mostra a importância que o profeta tinha na primitiva comunidade cristã. São Paulo refere-se, também, a Davi. Davi e João foram dois profetas que, de modo diferente, e em tempos distintos, prepararam a vinda do Messias: Davi recebeu a promessa do Messias; João preparou a vinda do mesmo, pregando um batismo de penitência. Impressiona, nesta página, a clareza com que João identifica Jesus, e se define a si mesmo. É este o primeiro dever do verdadeiro profeta.

Caros irmãos,

Em cada Santíssima Eucaristia, o anúncio da Palavra de Deus repete o tema que o Batista fazia ressoar às margens do Rio Jordão: “Convertei-vos!”. A narrativa da Ceia do Senhor, no centro da Oração Eucarística, é um trecho daquele evangelho que nos deve levar também a perguntar com fé à igreja que no-lo propõe: “Que devemos fazer?”(At 2,37). A resposta de Cristo, corpo-dado e sangue derramado, é: “Fazei isto em memória de mim!”. A vida e o martírio de São João Batista são uma das inúmeras respostas-memorial que sempre sobem ao Pai por Cristo, com Cristo e em Cristo.

Em nossa sociedade pós-moderna parece que a luz do Cristo está ofuscada. Mas com João Batista, vamos preparando os caminhos do Senhor, dando testemunho Dele pela vida e pela missão. Toda a Igreja e todos nós somos convidados a mostrar que o Cristo presente entre os homens e as mulheres é o mesmo que nos chama a viver a solidariedade, o amor e a alegria de servir e acolher a todos para o aprisco do Cristo. Amém!

 

Padre Wagner Augusto Portugal

24 de junho de 2022
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Solenidade do Sagrado Coração de Jesus

escrito por Padre Wagner Augusto Portugal

Nesta semana – no dia 24 de junho – iremos celebrar a Solenidade do Sagrado Coração de Jesus. Apresentemos a Jesus todas as intenções da nossa humanidade sofredora, seus medos e suas misérias.

O mês de junho é dedicado de modo particular ao Coração de Cristo, uma devoção que une os grandes mestres espirituais e as pessoas simples do povo de Deus. O Coração humano e divino de Jesus, disse ele, é a fonte onde sempre podemos haurir a misericórdia, o perdão, a ternura de Deus. Podemos ir à esta fonte detendo-nos sobre uma passagem do Evangelho, sentindo que no centro de todo gesto, de toda palavra de Jesus está o amor, o amor do Pai. E podemos fazê-lo também adorando a Eucaristia, onde este amor está presente no Sacramento. Então, também o nosso coração, pouco a pouco, se tornará mais paciente, mais generoso, mais misericordioso. Jesus, faz com que meu coração se assemelhe ao Seu.

Re-cordar significa retornar com o coração. Ao que o Coração de Jesus nos faz retornar? Ao que Ele fez por nós: o Coração de Cristo nos mostra Jesus que se oferece: é o compêndio da sua misericórdia. Olhando para Ele, é natural recordar sua bondade, que é gratuita e incondicional, não depende de nossas obras. E isso nos comove.

O Sagrado Coração é o ícone da paixão: nos mostra a ternura visceral de Deus, sua paixão amorosa por nós e, ao mesmo tempo, sob o peso da cruz e cercado de espinhos, nos mostra quanto sofrimento custou nossa salvação. Na ternura e na dor, esse Coração revela, em suma, qual é a paixão de Deus: o homem.

Quantas palavras dizemos sobre Deus sem demonstrarmos amor! Mas o amor fala por si mesmo, não fala de si mesmo. Peçamos a graça de ser apaixonados pelo homem que sofre, de ser apaixonados pelo serviço, para que a Igreja, antes de ter palavras para dizer, possa custodiar um coração que pulsa de amor.

O Coração de Jesus bate por nós, sempre repetindo estas palavras: Coragem, não tenha medo. Coragem irmã, coragem irmão, não desanime, o Senhor teu Deus é maior que teus males, ele te pega pela mão e te acaricia. Ele é seu conforto.

Se olharmos a realidade a partir da grandeza de seu Coração, a perspectiva muda, nosso conhecimento da vida muda porque, como São Paulo nos lembrou, conhecemos “o amor de Cristo que supera todo conhecimento” (Ef 3,19). Encorajemo-nos com esta certeza, com o conforto de Deus. E peçamos ao Sagrado Coração de Jesus a graça de, por nossa vez, podermos consolar. Sagrado Coração de Jesus, nós temos confiança em Vós!

Padre Wagner Augusto Portugal

20 de junho de 2022
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Solenidade do Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo, C.

escrito por Padre Wagner Augusto Portugal

“O Senhor alimentou seu povo com a flor do trigo e com o mel do rochedo o saciou”(cf. Sl. 80,17).

Meus queridos Irmãos e Irmãs,

A Eucaristia faz a Igreja e a Igreja faz a Eucaristia. A Eucaristia é para nós dom de Cristo dado à sua comunidade. Assim o distintivo dos primeiros cristãos era a refeição comunitária. O gesto de Jesus reunindo o povo no deserto e providenciando milagrosamente pão para todos é um símbolo da Igreja. Jesus quis ficar presente na Igreja no sinal da refeição aberta a todos que aderissem a ele – muito diferente daqueles banquetes onde geralmente se convidam as pessoas da mesma classe, ou os que podem pagar pela refeição.

Assim, entre os anseios mais antigos do povo de Deus está o sentimento de libertação dos pecados e de tudo o que é consequência deste pecado. Com a vinda de Jesus, Filho de Deus, que assumiu a nossa humanidade, a mesma carne castigada pelo pecado com que todos nos defrontamos foi assumida por Cristo, com exceção do pecado. Assim nos ensina São João: “O Filho de Deus fez-se carne e veio habitar entre nós. Nós vimos sua glória, a glória que ele, Filho único, recebeu do Pai, e era cheio de graça e de verdade”. (cf Jo 1,14).

Jesus nos ensinou a partilhar e a tomar refeição em comum: esta era a prática de Jesus, assentar-se com seus discípulos e apóstolos, com pescadores e publicanos, num tempo em que se assentar à mesa era medida de amizade e de bem querer, partilha fraterna de idéias e divisão de problemas e de alegrias.

O banquete Eucarístico é um banquete destinado para todos, em que o próprio Deus serve seus convidados, que são todos, inclusive os que a Lei do Antigo Testamento excluía do convívio humano, como os cegos, os aleijados, os coxos e os ignorantes.

Jesus escolhe a ceia para dar à criatura humana um alimento de vida eterna, um elemento de unidade com Deus, uma garantia de santificação e de glorificação.

Caros irmãos,

A Primeira Leitura desta Festa é retirada do Livro do Gênesis(cf. Gn 14,18-20) em que Melquisedec oferece pão e vinho. Melquisedec, rei de Salém, é o sacerdote do Deus altíssimo. Conhece Deus como criador do céu e da terra. Oferece-lhe os mais nobres dons: pão e vinho, o sustento cotidiano do homem; depois, os oferece a Abraão, seu hóspede. Como rei e sacerdote, Melquisedec prefigura Cristo; sendo não-judeu, significa a salvação universal; seus dons de pão e vinho recebem seu sentido pleno na ceia e no sacrifício de Cristo e da Igreja, o sacrifício sem fim, “do levantar ao pôr do Sol”. Observamos que o Antigo testamento está cheio de sacrifícios sangrentos. A primeira leitura apresenta, entretanto, um sacrifício sem qualquer efusão de sangue. Melquisedec, um rei sacerdote, oferece diante de Abraão pão e vinho. Os cristãos reconheceram nesse gesto um anúncio da Eucaristia e muitas vezes representaram este sacrifício nas pinturas e vitrais das igrejas, na proximidade do altar. Reconhecemos, também, neste episódio antigo um traço da pedagogia divina, que provocou continuamente o seu Povo a purificar as suas práticas sacrificiais, para prepará-lo para acolher a ação definitiva do seu Filho.

Caros irmãos,

A Segunda Leitura(cf. 1Cor 11,23-26) nos apresenta o memorial da morte de Cristo. Trata-se do mais antigo testemunho da celebração da Última Ceia, mencionado por Paulo ao ensejo dos abusos dos coríntios nessa celebração(humilhação dos membros pobres da comunidade). É impossível ter comunhão com Cristo sacrificado, enquanto desprezamos seus irmãos. O sacramento nos lembra o Senhor morto e ressuscitado, até que ele venha; então nos julgará conforme nossa doação aos irmãos, prioritariamente, aos mais humildes. Se não respeitamos seu “corpo”, que é a comunidade, a participação eucarística doe seu Corpo e Sangue da cruz significa a nossa condenação. O que os Apóstolos nos dizem da Eucaristia está nestas breves linhas de uma carta de São Paulo. O Apóstolo Paulo nos dá indicações importantes: refere-se, em primeiro lugar, à tradição que ele mesmo recebeu, e esta tradição vem do próprio Senhor, que deu a ordem de “fazer isso em memória dele”; indica, em seguida, que esta celebração recebida da tradição está integrada numa refeição, como a fração do pão na última Ceia e as refeições do Ressuscitado com os seus discípulos, em Emaús e em Jerusalém. Esta refeição coloca-nos em situação de esperança, sempre na espera do regresso do nosso Mestre Jesus Cristo, nosso Deus e Senhor.

Caros fiéis,

O Evangelho desta festa(Lc 9,11b-17) nos apresenta Jesus saciando as multidões. Saciando a multidão, Jesus mostra duas qualidades divinas: poder e bondade. O Reino de Deus está presente. Leva à plenitude os gestos de Deus no antigo Testamento. Menos ainda que no deserto, Deus deixa seu povo sem pão. Ao descrever o sinal do pão, Lucas pensou na Eucaristia, os discípulos distribuem o pão sobre o qual Jesus pronunciou a Eucaristia – ação de graças – na Última Ceia.

Irmãos e Irmãs,

O alimento da vida eterna que Jesus nos oferece é o seu próprio corpo e o seu próprio sangue: “Quem come a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna”. (cf Jo 6,54). O elemento de unidade com Deus é sua pessoa encarnada misteriosamente no pão e no vinho eucarísticos: “Quem come a minha carne e bebe o meu sangue permanece em mim e eu nele… e como eu vivo, assim também quem me come viverá em mim”(cf. Jo 6, 57-58). A garantia de santificação e de glorificação é o próprio Cristo, Deus-Homem e Homem-Deus: “Eu sou o pão vivo que desci do céu… o pão que eu dou é a minha carne para a salvação do mundo”(cf. Jo 6,51).

Com Santo Agostinho hoje podemos exclamar: “No sangue de Cristo saturou-se nosso sangue; e no sangue de Cristo revigorou-se nosso corpo”. Assim celebramos a grande festa de hoje: a festa desse Corpo e desse Sangue santíssimos. Festa que não é apenas de Cristo, porque nós já vivemos enxertados nele e alimentados pela Santa Eucaristia que recebemos na Missa. É na Eucaristia que a Igreja se ancora em Cristo como o navio no porto. Exatamente na Eucaristia a Santa Igreja Católica atinge o seu significado maior de comunidade e de sacramento de salvação. É em torno da Eucaristia que o povo de Deus se reúne esperançoso e alegre para alimentar-se na grande caminhada de retorno à Casa do Pai.

A Eucaristia, já anunciara o Concílio Ecumênico Vaticano II, é a fonte e o ápice de toda a vida cristã. Dirá mais, no documento sobre os presbíteros, que a Eucaristia é a raiz e o centro da comunidade, conteúdo de todos os bens da Igreja, porque nela está contido o próprio Cristo, nossa Páscoa e pão vivo que dá a vida através de sua carne vivificada e vivificante(cf Presbyterorum Ordinis, 5).

A Eucaristia é o maior sacramento da Igreja, por isso mesmo, a chamamos de augusto e santíssimo sacramento. Assim esta festa de hoje está intimamente ligada à festa da Instituição da Eucaristia, na quinta-feira Santa, unindo Cenáculo, Calvário e Altar. É o mesmo mistério que celebramos. Talvez seja diferente apenas o clima de celebração, porque na Quinta-feira Santa pesava na celebração a advertência de Paulo: “Na noite em que foi traído”. (cf 1Cor 11,23) e pesava, sobretudo a previsão do drama da Sexta-Feira santa. Hoje tudo é alegria, louvor, adoração e agradecimento. Na Quinta-Feira Santa, Jesus foi levado amarrado, como criminoso, às autoridades judaicas e romanas. Hoje o levamos triunfalmente pelas ruas da cidade, como o nosso Rei, Pastor e Senhor.

Por conseguinte, a festa do Corpo e do Sangue de Cristo é repleta de significados especiais: nós cremos em Jesus, Filho de Deus, que continua em nosso meio, que nos chama a sermos seu corpo místico na terra. Vamos, pois, adorar a Deus de joelhos nos altares e nas praças públicas, com júbilo, admiração e doce agradecimento pela nossa profunda comunhão com Deus.

Comunhão que é o contrário de divisão. Comunhão que é partilha. Comunhão que nos faz um só corpo em Cristo, uma só Igreja, uma só comunidade de fieis, porque uma só é a comunhão com Deus.

Irmãos e Irmãs,

A multiplicação dos pães é sinal messiânico, sinal dos tempos em que tudo acontecerá conforme o desejo e a vontade de Deus, sinal do Reino de Deus: fartura e comunhão. Mas é ainda prefiguração. A refeição à beira do lago da Galiléia se tornará completa somente quando Jesus der seu próprio corpo e sangue, na cruz. Então já não será passageira; será uma realidade de uma vez para sempre, no sacramento confiado à Igreja. Este é também o sentido profundo de que a Igreja vê no misterioso pão e vinho oferecidos pelo sumo sacerdote Melquisedec, a quem o pai Abraão presta reverência como nos ensina a primeira leitura.

A Eucaristia deve então ser o verdadeiro banquete messiânico, sinal dos tempos novos e definitivos, em que as divisões e provações humanas sejam superadas, na vida da fé em Cristo Jesus. A desigualdade gritante e deprimente, o escândalo de super-ricos ao lado de pobres-famintos morrendo de fome, a marginalização são incompatíveis com a Eucaristia, como nos ensina a segunda leitura. Na Santa Eucaristia, Cristo identifica a comida partilhada com a sua própria vida e pessoa. O pão repartido se torna presença de Cristo, onde não se reparte o pão, Cristo não pode estar presente.

Na multiplicação dos Paes Jesus não fez descer pão do céu, como o maná de Moisés. Nem transformou pedras em pão, como lhe sugerira o demônio quando das tentações no deserto. Jesus, ao contrário, ordenou aos discípulos: “vós mesmo, daí-lhes de comer…” e o pão não faltou. Porém, se não observarmos esta ordem de Jesus e não dermos de comer aos nossos irmãos, ele também não poderá tornar-se presente em nosso dom. Então, não só o pão, mas Cristo mesmo faltará.

Caros fiéis,

O Evangelista Lucas nos ensina que Jesus, depois de ter falado do Reino de Deus às multidões e curado os que sofriam, multiplicou cinco pães e dois peixes para não despedir com fome tanta gente. O Evangelista João aplica diretamente à Eucaristia, como “sinal”, este milagre de Cristo, que é a primeira multiplicação dos pães(cf. Jo 6). O saciar uma multidão faminta pode, também, lembrar aos cristãos a ordem de Jesus: “Fazei isto em memória de mim”.

Comungar é ser alimentado pela vida de Jesus, enriquecido pelas suas próprias forças, ser capaz do seu amor. Do mesmo modo que comemos para viver, comungamos na Eucaristia para viver como discípulos de Jesus. A Eucaristia é verdadeiramente “vital” para nós? Se assim não for, um período de “jejum eucarístico”, um tempo de retiro espiritual para lhe descobrir o sentido, podem ajudar a reencontrar a grandeza deste sacramento. Se assim for, procuremos rezar por aqueles que são privados da Eucaristia e sofrem, e peçamos ao Senhor para lhes dar de novo a graça do seu amor.

Caros irmãos,

A festa de Corpus Christi oferece a oportunidade de refletir sobre o sentido da Eucaristia na vida dos cristãos e cristãs. Celebrar a memória de Jesus Cristo, morto e ressuscitado, é atualizar seus gestos de amor oblativo em favor da vida de todas as pessoas. De modo particular, não podemos esquecer a dimensão social da Eucaristia. “São João Crisóstomo exortava: ‘Querem em verdade honrar o corpo de Cristo? Não consintam que esteja nu. Não o honrem no templo com mantos de seda enquanto fora o deixam passar frio e nudez’” (DAp 354).

A celebração adquire seu verdadeiro sentido quando é expressão de relacionamentos justos e fraternos, vividos no cotidiano da vida familiar, comunitária e social. Não é, portanto, por meio de manifestações triunfalistas que expressamos a fé e o louvor a Deus. Para evitar essa tendência e todo tipo de alienação, Paulo adverte: “Todas as vezes, pois, que comeis desse pão e bebeis desse cálice, anunciais a morte do Senhor até que ele venha”.

O pão e o vinho oferecidos por Melquisedec – “Rei da justiça” e “Sacerdote da paz” – em louvor às bênçãos de Deus sobre Abraão apontam para a identidade e a missão de Jesus. Ele é, por excelência, a bênção do Pai em favor do povo. Toda a sua vida é, na verdade, um ato eucarístico em louvor a Deus concretizado no amor ao próximo. Sua prática indica o caminho da paz como fruto da justiça. O seu gesto de bênção sobre os alimentos com a partilha entre todos nos alerta para o desdobramento da eucaristia na vida cotidiana de cada um de nós. “A eucaristia é o centro vital do universo, capaz de saciar a fome de vida e felicidade: ‘Aquele que se alimenta de mim viverá por mim’ (Jo 6,57)” (DAp 354).

“Nossa existência cotidiana se converte em missa prolongada (…)” (DAp 354). Todas as pessoas, todas as coisas, todos os momentos e todos os espaços são sagrados porque dons de Deus. Não se podem admitir situações excludentes, o acúmulo dos bens, a exploração egoísta do tempo, nem conformar-se com isso. Jesus mostrou o caminho para uma nova sociedade, organizada a partir da base e com a administração justa dos bens. Ele conta com a colaboração dos seus seguidores e seguidoras para continuar a sua obra.

A celebração da festa de Corpus Christi pode constituir um bom momento de valorizar a corresponsabilidade de todos no cuidado e respeito por todas as formas de vida. Em coerência com o que celebramos na Eucaristia, não podemos prescindir do empenho em favor da superação de toda espécie de violência e exploração, tanto do ser humano como da natureza…

Meus queridos Irmãos,

Na santa Missa Deus vem ao encontro do desejo humano de participar da vida divina. Por isso vamos dar graças a Deus repetindo a sequência da liturgia de hoje: “O que o Cristo fez na ceia, manda à Igreja que o rodeia: Repeti-lo até voltar. Seu preceito conhecemos: Pão e vinho consagremos: para a nossa salvação. Amém!”.

 

Padre Wagner Augusto Portugal

16 de junho de 2022
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Peregrinação em Roma

escrito por Padre Wagner Augusto Portugal

Estou terminando, no dia 10 de junho, uma peregrinação de 12 dias em Roma. Rezei junto aos túmulos dos Apóstolos Pedro e Paulo nas intenções de todos os meus irmãos e irmãs que me acompanham, quer pelas mídias sociais, quer pelas correspondências semanais. Foram dias intensos de grande retiro espiritual e de grande crescimento na fé. Peregrinamos nas quatro Igrejas Papais: São Pedro, São Paulo Fora dos Muros, São João de Latrão – a Catedral do Papa – e Santa Maria Maior. Em cada uma destas Basílicas Papais rezamos nas suas intenções, de sua família e de todos os que lhe são caros.

Não podemos deixar de ressaltar que rezamos por todos os que sofrem: os doentes, os marginalizados, os que passam situação de risco ou que são perseguidos.

Qual é o significado de uma peregrinação? frequentes vezes se lê que no Antigo Testamento o povo peregrinava para Jerusalém. Trata-se de um sinal cristão a ter em conta. Na Idade Média, esta antiga tradição concretizou-se em vastas e famosas peregrinações às cidades santas de Jerusalém, Roma e Santiago de Compostela. As peregrinações são sinal de penitência, e são também um modo de libertação de maus pensamentos, dispondo-se deste modo o homem a aproximar-se de Deus. Hoje em dia, assistimos a um renascimento deste costume de peregrinar. Os cristãos querem dizer através deste sinal que procuram a paz e que o poder da graça de Deus os seduz.

Por que a peregrinação em Roma? Para renovar o nosso afeto e a nossa adesão ao Magistério do Bispo de Roma, o Papa Francisco. Com ele estivemos, pedimos a sua bênção e esta bênção foi estendida a todos os que nos acompanharam com as suas orações. As peregrinações evocam nossa caminhada pela terra em direção ao céu. São tradicionalmente tempos fortes de renovação da oração. Os santuários são para os peregrinos, em busca de suas fontes vivas, lugares excepcionais para viver “como Igreja” as formas da oração cristã.

Assim, todos vocês, sintam-se abraçados e presentes em nossa peregrinação! Por vocês rezamos! Com vocês caminhamos para a cidade do Alto, a Jerusalém Celeste. Que Deus nos abençoe, por intermédio dos Apóstolos Pedro e Paulo.

Padre Wagner Augusto Portugal

11 de junho de 2022
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SOLENIDADE DE PENTECOSTES, C.

escrito por Padre Wagner Augusto Portugal

“O amor de Deus foi derramado em nossos corações pelo seu Espírito que habilita em nós, aleluia!” (cf. Rm 5,5; 10,11)

Meus queridos Irmãos,

Vivemos hoje a grande festa da Igreja Universal: a manifestação do Espírito Santo sobre a Igreja nascente. É o Espírito Santo que anima e que ilumina a vida da comunidade e dos fiéis cristãos.

Poderíamos iniciar a nossa reflexão com uma indagação: Pentecostes é o aniversário da Igreja? De certa maneira sim. A primeira comunidade tinha sido reunida por Jesus durante a sua vida. Mas o que foi tão decisivo na data de Pentecostes, depois da morte e ressurreição de Jesus, é que aí começou a proclamação ao mundo inteiro da Salvação em Jesus Cristo, morto e ressuscitado.

Para os antigos judeus, Pentecostes era o aniversário da proclamação da lei no monte Sinai: esta proclamação constituiu, por assim dizer, Israel como povo, deu-lhe uma “constituição”. De modo semelhante, quando os apóstolos proclamam no dia de Pentecostes a salvação em Jesus Cristo, é constituído o novo povo de Deus. Não só Israel, mas todos os povos agora alcançados, cada um em sua própria língua, conforme nos ensina a primeira leitura.

Meus caros irmãos,

A Primeira Leitura de hoje(At 2,1-11) nos apresentar o milagre das línguas. Pentecostes é interpretado como acontecimento escatológico à partir da profecia de Joel. Mas, sobretudo, é o cumprimento da palavra de Cristo. Passa como um vendaval ao ouvido, como fogo aos olhos; mas permanece como transformação do “pequeno rebanho” em Igreja missionária. Também hoje a Igreja do Cristo se reconhece pelo espaço que ela dá ao Espírito e pela capacidade de proclamar sua mensagem.

O Espírito (força de Deus) é apresentado em forma de língua de fogo. A língua não é somente a expressão da identidade cultural de um grupo humano, mas é também a maneira de comunicar, de estabelecer laços duradouros entre as pessoas, de criar comunidade. “Falar outras línguas” é criar relações, é a possibilidade de superar o gueto, o egoísmo, a divisão, o racismo, a marginalização… Aqui, temos o reverso de Babel (cf. Gn 11,1-9): lá, os homens escolheram o orgulho, a ambição desmedida que conduziu à separação e ao desentendimento; aqui, regressa-se à unidade, à relação, à construção de uma comunidade capaz do diálogo, do entendimento, da comunicação. É o surgimento de uma humanidade unida, não pela força, mas pela partilha da mesma experiência interior, fonte de liberdade, de comunhão, de amor. A comunidade messiânica é a comunidade onde a ação de Deus (pelo Espírito) modifica profundamente as relações humanas, levando à partilha, à relação, ao amor.
É neste enquadramento que devemos entender os efeitos da manifestação do Espírito (cf. At 2,5-13): todos “os ouviam proclamar na sua própria língua as maravilhas de Deus”. O elenco dos povos convocados e unidos pelo Espírito atinge representantes de todo o mundo antigo, desde a Mesopotâmia, passando por Canaan, pela Ásia Menor, pelo norte de África, até Roma: a todos deve chegar a proposta libertadora de Jesus, que faz de todos os povos uma comunidade de amor e de partilha. A comunidade de Jesus é assim capacitada pelo Espírito para criar a nova humanidade, a anti-Babel. A possibilidade de ouvir na própria língua “as maravilhas de Deus” outra coisa não é do que a comunicação do Evangelho, que irá gerar uma comunidade universal. Sem deixarem a sua cultura, as suas diferenças, todos os povos escutarão a proposta de Jesus e terão a possibilidade de integrar a comunidade da salvação, onde se fala a mesma língua e onde todos poderão experimentar esse amor e essa comunhão que tornam povos tão diferentes, irmãos. O essencial passa a ser a experiência do amor que, no respeito pela liberdade e pelas diferenças, deve unir todas as nações da terra.

Nesta solenidade vamos ressaltar o papel do Espírito na tomada de consciência da identidade e da missão da Igreja. Antes do Pentecostes, tínhamos apenas um grupo fechado dentro de quatro paredes, incapaz de superar o medo e de arriscar, sem a iniciativa nem a coragem do testemunho; depois do Pentecostes, temos uma comunidade unida, que ultrapassa as suas limitações humanas e se assume como comunidade de amor e de liberdade.

Caros irmãos,

A Segunda Leitura(1Cor 12,3b-7.12-13) nos apresenta a unidade do Espírito na diversidade dos dons. “Jesus é o Senhor” é a confissão que une a Igreja primitiva. E esta confissão só se consegue manter na força do Espírito Santo. Como a unidade da confissão, o Espírito dá, também, a multiformidade dos serviços na Igreja. Todos que pertencem a Cristo são membros diversos do mesmo Corpo. O Espírito é, pois, apresentado como Aquele que alimenta e que dá vida ao “corpo de Cristo”; dessa forma, Ele fomenta a coesão, dinamiza a fraternidade e é o responsável pela unidade desses diversos membros que formam a comunidade. Devemos todos termos a consciência de que somos membros de um único “corpo” – o corpo de Cristo – e é o mesmo Espírito que nos alimenta, embora desempenhemos funções diversas (não mais dignas ou mais importantes, mas diversas).

Irmãos e Irmãs,

Jesus conhecia também a curteza da mente e do coração humanos. Sozinhos, os homens não seriam capazes de conhecer e viver a verdade evangélica. Conhecia, assim, a forte tendência da criatura ao egoísmo. Ora, o Reino dos Céus estende-se na direção oposta ao egoísmo: tende a formar rede de comunidade, tende ao universalismo, por isso a Igreja é católica, ou seja, universal, aonde o Espírito age e vivifica.

Assim Jesus envia o Espírito Santo para sustentar a criatura, iluminar os olhos da fé e abrir estes olhos à fraternidade.

Hoje celebramos a mistura do Espírito e vida, Espírito e história, Espírito e destino humano. E Pentecostes passa a significar fonte e finalidade, começo e plenitude.

Cristo ressuscitou para nos livrar da morte eterna. E o Espírito Santo desceu sobre os Apóstolos na abundância de sua graça para que, continuando a missão de Jesus, dessem testemunho da misericórdia de Deus encarnada em Cristo e implantassem a lei do coração. (cf. 2 Cor 3,3).

Meus queridos Irmãos,

É muito significativo que o Espírito Santo desça sob os Apóstolos no mesmo lugar da Instituição da Eucaristia, ou seja, no Cenáculo. Assim, a partir de Pentecostes, os discípulos, ou seja, a Igreja, formarão o corpo total de Cristo, serão os continuadores da missão de Jesus, aqueles que, fazendo a Eucaristia, são por ela transformados no Corpo do Senhor.

São Francisco de Assis ensina que: “É o Espírito Santo do Senhor, que habita nos fiéis, quem recebe o santíssimo Corpo e Sangue de Cristo”. Assim, será nula a comunhão, se não estivermos santificados pelo poder do Espírito Santo. E por menores que sejamos, seremos dignos do Senhor, porque não é a pequenez que conta, mas a grandeza do Espírito Santo de Deus em nós.

Jesus, no Evangelho de hoje(cf. Jo 20,19-23), nos promete a sua presença entre nós até a consumação dos tempos. E mais do que isso ele nos oferece “a paz”, esta instituição que está tão desprezada pelos povos globalizados e dominadores. Paz que vem da Eucaristia! Paz que vem da presença santificante de Deus em nós! Paz que é o repouso da presença do Espírito vivificante em nós, o Espírito de Deus!

Irmãos caríssimos,

O Espírito Santo é o Paráclito. Paráclito que significa advogado, consolador e sustentador de nossas vidas. Paráclito é uma palavra composta e indica um amigo ou uma pessoa de confiança chamada para nos ajudar num momento de crise ou de dificuldade; mas indica também o consolo que sentimos, a segurança que esperamos de Deus, que experimentamos na nossa fé, na certeza de que o Espírito de Deus sempre caminha ao nosso lado para nos proteger, consolar e sustentar na constância da fé e da caridade.

Jesus, no Evangelho, envia os apóstolos para a missão e dá a certeza de que o Espírito Santo sempre velará e acompanhará na missão de anúncio do Reinado e senhorio de Deus. Dentro da fragilidade dos ministros sagrados, mas impregnados pela graça santificante de Deus, abandonando todos os paradigmas da perseguição e da calúnia que desune a comunidade, o Espírito Santo nos envia para a missão porque “Tudo posso naquele que me fortalece”(cf. Fl 4,13).

Oração suplicante, oração com corações e joelhos voltados para o alto, para que o Espírito Santo nos ajude a enxergar no irmão o rosto sereno e radioso de Cristo Ressuscitado.

Os apóstolos que escutaram de viva voz Jesus e caminharam com ele, tiveram medo e dificuldade de entender a sua missão na terra. Assim, mais do que todos nós temos que ter a intrépida coragem de sair pelo mundo como testemunhas de Jesus, testemunhando pela fé, não precisando ver para crer.

As comunidades construídas à volta de Jesus são animadas pelo Espírito. O Espírito é esse sopro de vida que transforma o barro inerte numa imagem de Deus, que transforma o egoísmo em amor partilhado, que transforma o orgulho em serviço simples e humilde. É Ele que nos faz vencer os medos, superar as covardias e fracassos, derrotar o ceticismo e a desilusão, reencontrar a orientação, readquirir a audácia profética, testemunhar o amor, sonhar com um mundo novo. É preciso ter consciência da presença contínua do Espírito em nós e nas nossas comunidades e estar atentos aos seus apelos, às suas indicações, aos seus questionamentos.

Caros irmãos,

O Espírito Santo é o fogo do Amor de Deus, que jorra na Trindade e une o Pai e o Verbo, que o Pai gera ao conhecer-se a Si Mesmo desde toda a eternidade. E assim como essa Palavra viva, que exprime a sabedoria infinita de Deus, é uma outra Pessoa na unidade de Deus, também o Espírito Santo, amor infinito, é uma outra pessoa, dentro da unidade da natureza divina.

Por isso dizemos no Credo “que precede do Pai e do Filho e com o Pai e o Filho recebe a mesma adoração.”

“Na Sua vida íntima – diz João Paulo II – Deus “é amor” (1 Jo 4, 8.16), amor essencial, comum às três Pessoas divinas, mas amor pessoal é o Espírito Santo, como Espírito do Pai e do Filho. Por isso, Ele «perscruta as profundezas de Deus (1 Cor 2, 10) como Amor – Dom incriado. Pode dizer-se que, no Espírito Santo, a vida íntima de Deus uno e trino se torna totalmente dom, permuta de amor recíproco entre as Pessoas divinas; e ainda, que no Espírito Santo Deus “existe” à maneira de Dom. O Espírito Santo é a expressão pessoal desse doar-se, desse ser–amor. É Pessoa–Amor. É Pessoa–Dom. Temos aqui a riqueza insondável da realidade e o aprofundamento inefável do conceito de Pessoa em Deus, que só a Revelação divina nos dá a conhecer”. (JOÃO PAULO II, Enc. Dominum et vivificantem, 10)

Peçamos ao Divino Consolador que nos ajude a penetrar no mistério dessa infinita da Trindade. Só guiados pelo amor o poderemos conseguir. O Pe. Garrigou Lagrange, grande teólogo dominicano, contava que um dia lhe apareceu no confessionário uma velhinha a fazer perguntas sobre a Santíssima Trindade. Estranhou a profundidade e a sabedoria que elas revelavam e perguntou: –A senhora onde é que estudou essas coisas? E a velhinha respondeu: –– Mas, senhor padre, eu não sei ler, mas quando rezo, fico a pensar nelas. Aquela mulher, pela intimidade com Deus na oração, conhecia muito dos mistérios divinos e não o encontrara nos livros de teologia.

Uma humilde costureira espanhola, Francisca Xaviera del Valle, escreveu um livro muito bonito, Decenário do Espírito Santo. Ainda hoje é muito proveitoso para quem o lê, ensinando muitas coisas belas e profundas sobre o Paráclito. E não pode ter muitos estudos teológicos, mas ser alma de grande vida interior.

Caros irmãos e irmãs,

O Evangelho desta celebração(Jo 20,19-23) traz ao menos dois temas importantes com relação ao dom do Espírito: a alegria e a missão. Os discípulos, diante do Ressuscitado-Crucificado, alegram-se. O Senhor sopra sobre eles e lhes concede o Espírito, que os capacitará para sua missão: a reconciliação da humanidade com Deus. A primeira leitura(At 2,1-11) nos traz novamente o dado da alegria como característica própria da festa de Pentecostes ou das Semanas, assim como a temática da superação do impedimento linguístico para o anúncio dos discípulos.

A segunda leitura(1Cor 12,3-7.12-13) traz um dado que a liga à primeira: a ação do Espírito é responsável pela superação de dificuldades de entendimento. Se, na primeira, a falta de entendimento devia-se à diferença linguística, na segunda, encontra-se no nível das relações comunitárias. Ambas são ou devem ser superadas pela presença e ação do Espírito.

O dom do Espírito já não se encontra restrito ao povo de Israel, representado pelos discípulos, mas cumpre a missão confiada por Jesus, no Evangelho, de levar a reconciliação a todos os povos. O Espírito é o dom do Pai que, pela morte e ressurreição de Jesus, foi derramado sobre sua Igreja, mas não pode ficar aprisionado nela ou por ela. A comunidade dos seguidores de Jesus deve ser também instrumento de vinda desse Espírito, por meio da oração e da presença de Jesus em seu meio.

O Evangelho deste dia também nos chama a sermos reconciliadores no mundo; a travar uma luta a fim de que cessem os ódios, a violência, o descaso, o abuso e a corrupção moral, social e política. A Igreja partilha a vida de Jesus quando, ao receber seu Espírito, se compromete a lutar para que o Evangelho saia do papel impresso e seja gravado nas suas ações; quando se compromete a ser, ela mesma, lugar e instrumento de reconciliação interna e externa.

Há, na Igreja, pessoas diferentes, com dons e ministérios diferentes, e isso é graça de Deus. A completa igualdade na Igreja tiraria seu dinamismo e beleza. Importa reconhecer que o Espírito Santo é quem nos faz todos membros de um mesmo corpo, o corpo de Cristo. E a missão de Cristo de levar a humanidade à reconciliação plena com Deus agora deve ser realizada por meio desse corpo. Jesus, por sua paixão e ressurreição, reconciliou o mundo com Deus. Nós, seus representantes e enviados, somos chamados a dar a conhecer ao mundo essa reconciliação. A unidade do Espírito Santo agindo na diversidade de dons e carismas é sinal manifesto da presença de Deus no mundo por meio da Igreja, comunidade dos seguidores e seguidoras de Jesus.

Meus caros Irmãos,

A missão da Igreja continua em nossos dias. É nosso dever tentar alcançar com a nova evangelização todas as gentes, povos, grupos, classes e raças.

Assim o verdadeiro milagre das línguas não consiste em dizer somente “Aleluia” em todas as línguas. É mais. Os diversos dons do Espírito Santo de que fala a segunda leitura servem exatamente para isto: para atingir as pessoas de todas as maneiras, para sermos profetas da Nova Aliança, selada por Cristo em seu próprio sangue e agora publicada para o mundo sob o impulso do Espírito.

A comunhão a todos reúne. No Espírito Santo, espírito de amor e unidade, todos podem entender-se. O Espírito é a alma da Igreja, o calor de nossa fé e de nossa comunhão eclesial. A Igreja, por sua unidade no Espírito, no vínculo da paz, torna-se sacramento do perdão, da unidade, da paz no mundo, na medida em que ela se coloca em contacto com o Senhorio do Cristo pascal, na evangelização e na vivência do amor.

Viver o Cristo e amar o próximo pode ser o resumo da presença do Espírito Santo entre nós. Amém!

 

Padre Wagner Augusto Portugal.

4 de junho de 2022
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Vigília de Pentecostes, C

escrito por Padre Wagner Augusto Portugal

“O amor de Deus foi derramado em nossos corações pelo seu Espírito que habita em nós, aleluia!”(cf. Rm 5,5;10,11).

Reza a tradição eclesial que a Vigília de Pentecostes é uma das mais especiais celebrações da nossa Igreja. Como na vigília pascal, administrava-se o batismo, unido à crisma. Se a noite pascal dava mais ensejo para acentuar o batismo – morrer e ressuscitar com Cristo, – o tema pentecostal refere-se, antes, ao dom do Espírito, relacionado com a crisma. Por isso, esta vigília é vivíssima oportunidade ideal para a crisma ou, pelo menos, para um retiro dos jovens que conscientemente vão assumir a vida no Espírito Santo.

Caros irmãos,

O que é Pentecostes? Em Pentecostes nós renovamos a cena do “Cenáculo”.  Cenáculo idealmente ligado ao de Jerusalém onde, há quase dois mil anos, se verificou a primeira prodigiosa efusão do Espírito Santo sobre os Apóstolos e Maria Santíssima. Naquele dia nasceu a Igreja una, santa, católica e apostólica. Una, porque é tornada mistério de comunhão pelo Espírito, ícone da Santíssima Trindade na terra; santa, porque o Espírito conserva nos seus membros a santidade de Cristo Cabeça; católica, porque o Espírito a estimula a anunciar a todos os povos o único Evangelho de salvação; Apostólica, porque através do ministério dos Apóstolos e dos seus sucessores, o Espírito a orienta pelas veredas da história.

Naquele tremendo dia os Apóstolos receberam os dons do Espírito Santo. Jesus ressuscitado dissera aos discípulos: “Permanecei na cidade até serdes revestidos da força do Alto” (Lc 24, 49). Isto aconteceu de forma sensível no Cenáculo, enquanto todos estavam reunidos em oração com Maria, Virgem Mãe. Como lemos nos Atos dos Apóstolos, repentinamente aquele lugar foi invadido por um vento impetuoso, e umas línguas de fogo pairaram sobre cada um dos presentes. Então, os Apóstolos saíram e começaram a proclamar em diversas línguas, que Jesus é Cristo, o Filho de Deus, morto e ressuscitado (cf. At 2, 1-4). O Espírito Santo, que com o Pai e o Filho criou o universo, que guiou a história do povo de Israel e falou por meio dos profetas, que na plenitude dos tempos cooperou na nossa redenção, no Pentecostes desceu sobre a Igreja nascente tornando-a missionária, enviando-a para anunciar a todos os povos a vitória do amor divino sobre o pecado e a morte.

O Espírito Santo é a alma da Igreja. Sem Ele, ao que se reduziria ela? Sem dúvida, seria um grande movimento histórico, uma instituição social complexa e sólida, talvez uma espécie de agência humanitária. E na verdade é assim que a julgam quantos a consideram fora de uma perspectiva de fé. Na realidade, porém, na sua verdadeira natureza e também na sua mais autêntica presença histórica, a Igreja é incessantemente plasmada e orientada pelo Espírito do seu Senhor. É um corpo vivo, cuja vitalidade é precisamente o fruto do invisível Espírito divino.

Queridos irmãos,

A Primeira Leitura da vigília desta noite, em que nós escolhemos a de Gn 11, a confusão das línguas por ocasião da construção de Babel, nos apresenta o que aconteceu no primeiro Pentecostes cristão, cinqüenta dias depois da ressurreição de Cristo. Descrevem a “tipologia veterotestamentária” do Pentecostes cristão(cf. Gn 11,1-9)

A Segunda Leitura(cf. Rm. 8,22-27) nos apresenta as primícias do Espírito, que vem em socorro da nossa fraqueza. Somos salvos, mas ainda não é manifestada a nossa salvação. O que vemos é ainda fraqueza, pecado, morte, mas a Palavra de Deus nos revela nossa salvação, e o Espírito que recebemos é apoio para nossa fé, esperança e oração. Ele reza em nós, conhecendo melhor do que nós a nossa carência. Por isso mesmo o Salmo Responsorial(cf. Sl 104) canta a contínua “re-criação” do universo pelo “espírito de Deus”, princípio de vida divina na criação e na história, inspiração divina da vida, presença ativa de Deus em tudo o que acontece. Sem a participação de Deus, a criação nem sequer pode existir, e a história torna-se uma história de morte. O espírito de Deus não é alheio à matéria, mas serve para animar tanto a matéria biológica como “a matéria histórica” – nossa sociedade. O oposto do espírito não é a matéria, mas a carne, isto é, a auto-suficiência do homem. O espírito do amor de Deus deve transformar nossa história de “carnal” em “espiritual”.

Meus caros irmãos,

O Evangelho(cf. Jo 7,37-39) nos apresenta o lado aberto de Cristo, fonte do Espírito Santo. Na festa dos Tabernáculos, festa de luz e água, Jesus se revela como fonte de água viva. A água é força, Espírito de Deus. Elevado na cruz, Jesus derrama esta água de seu lado aberto. Quem acredita no Cristo exaltado, recebe dele o Espírito e a comunhão da vida divina.

Todos nós podemos aliviar a nossa sede com o Espírito que sai do lado aberto de Cristo, como as águas salvadoras saem do templo utópico de Ez 47. Enquanto Cristo não era glorificado, ainda não havia o Espírito. A glorificação de Jesus, na maneira de ver de João, é sua exaltação na cruz, que é a glória de seu amor e fonte do Espírito que ele nos dá. Celebramos, com Pentecostes, o dom do Espírito, que torna a glorificação de Cristo fecunda para os seus discípulos-missionários.

“Se alguém tem sede, venha ter comigo e beba. Aquele que crê em Mim, como diz a Escritura, correrão das suas entranhas rios de água viva”. Segundo a primeira interpretação, trata-se do seio do Messias: do peito de Cristo, atravessado pela lança, vem-nos o Espírito Santo, como fruto maravilhoso da árvore da Cruz. Na segunda interpretação, trata-se do seio do batizado, a alma do homem santificado por Cristo.

Prezados irmãos,

As três permanentes tentações da humanidade acabam em desastre: a pretensão da subida acaba em queda; a concentração, em dispersão; a fama, em infâmia. Na segunda leitura possuímos os primeiros frutos do Espírito, que vem em socorro de nossa fraqueza. No Evangelho: Jesus é a fonte de água viva que sacia a sede da humanidade.

Caros irmãos,

Quando prometeu o Espírito Santo, o Senhor Jesus falou d’Ele como do “Consolador”, do “Paráclito”, que Ele mandaria de junto do Pai (cf. Jo 15, 26). Falou como do “Espírito de verdade”, que conduziria a Igreja rumo à verdade íntegra (cf. Jo 16, 13). E especificou que o Espírito Santo Lhe daria testemunho (cf. Jo 15, 26). Porém, acrescentou imeditamente:  “Vós também dareis testemunho de mim, porque estais comigo desde o princípio” (Jo 15, 27). Agora que no Pentecostes o Espírito desce sobre a comunidade reunida no Cenáculo, tem início este dúplice testemunho:  do Espírito e dos Apóstolos.

O testemunho do Espírito é por si só divino:  provém da profundidade do mistério trinitário. O testemunho dos Apóstolos é humano:  na luz da revelação, transmite a sua experiência de vida ao lado de Jesus. Lançando os fundamentos da Igreja, Cristo atribui uma grande importância ao testemunho humano dos Apóstolos. Ele quer que a Igreja viva da verdade histórica da sua Encarnação a fim de que, por obra das testemunhas, nela seja sempre viva e operosa a memória da sua morte na cruz e da sua ressurreição.

“Vós também dareis testemunho de mim” (Jo 15, 27). Animada pelo dom do Espírito, a Igreja sempre sentiu profundamente este compromisso e proclamou com fidelidade a mensagem evangélica em cada tempo e debaixo de todos os céus. Fê-lo no respeito da dignidade dos povos, da sua cultura e das suas tradições. Com efeito, ela sabe bem que a mensagem divina que lhe foi confiada não é inimiga das mais profundas aspirações do homem; pelo contrário, ela foi revelada por Deus para saciar, para além de toda a expectativa, a fome e a sede do coração humano. Exatamente por isso, o Evangelho não deve ser imposto, mas proposto, porque somente se for aceite livremente e abraçado com amor pode desempenhar a sua eficácia.

Que esta proposta salvadora, vinda com a efusão do Espírito Santo sobre cada um dos membros da Igreja, nos ajude a sermos autênticos anunciadores das maravilhas do Espírito que age e que nos protege, neste vale de lágrimas, a trabalharmos pelo Senhor da Vida.  Encorajada pela memória do primeiro Pentecostes, a Igreja reaviva hoje a expectativa de uma renovada efusão do Espírito Santo. Assídua e concorde na oração com Maria, Mãe de Jesus, ela não cessa de invocar:  desça o vosso Espírito, ó Senhor, e renove a face da terra (cf. Sl 104 [103], 30)! Veni, Sancte Spiritus:  vinde, Espírito Santo, fazei arder nos corações dos vossos fiéis o fogo do vosso amor! Para vivermos sempre na presença da Trindade: FICA CONOSCO SENHOR!

Padre Wagner Augusto Portugal.

3 de junho de 2022
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SOLENIDADE DA ASCENÇÃO DO SENHOR, C.

escrito por Padre Wagner Augusto Portugal

“Homens da Galiléia, por que estais admirados, olhando para o céu? Este Jesus há de voltar do mesmo modo que o vistes subir, aleluia!”

Meus queridos Irmãos

A primeira leitura e o Evangelho(cf. Lc 24,46-53) nos contam como os apóstolos viveram as últimas aparições de Jesus ressuscitado: como despedida provisória e como promessa. Jesus não voltaria até a consumação do mundo, mas deixou nas mãos deles a missão de levar a salvação e o perdão dos pecados a todos que quisessem converter-se, no mundo inteiro. E prometeu-lhes o Espírito Santo, a força de Deus, que os ajudaria a cumprir sua missão.

A vitalidade a juventude da Santa Igreja, até hoje, tem a sua raiz nesta bendita herança que Deus lhe deixou: “É bom para vocês que eu me vá – diz Jesus no evangelho de João – porque, senão, não recebereis o Paráclito, o Espírito da Verdade.”(cf. Jo 16, 7) Jesus salvou o mundo movido pelo Espírito e dando a sua vida pelos homens. Agora, nós devemos dar continuidade a esta salvadora obra, geração após geração. O Espírito de Jesus e do Pai deve animar em nós, e através de nós, um testemunho igual ao de Jesus: deve fazer reviver Jesus em nós. O que salva o mundo não é a presença física de Jesus para todas as gerações, mas sim o Espírito que ele gerou em nós pela morte por amor – o Espírito do Pai e dele mesmo.

Meus caros irmãos,

A Primeira Leitura(cf. At. 1,-11) apresenta a Ascensão de Jesus e a missão dos apóstolos. Os dias entre a Páscoa e a Ascensão formam “o retiro de preparação”(40 dias) para o desabrochamento da Igreja. Foram as últimas instruções de Jesus aos seus: promessa e missão. Os apóstolos deverão levar a mensagem de Jesus ao mundo inteiro, e para isso receberão a força renovadora do Espírito Santo. Até o Senhor voltar, sua Igreja será missionária.

O livro dos Atos dos Apóstolos dirige-se às comunidades que vivem num certo contexto de crise. Estamos na década de 80, cerca de cinquenta anos após a morte de Jesus. Passou já a fase da expectativa pela vinda iminente do Cristo glorioso para instaurar o “Reino” e há uma certa desilusão. As questões doutrinais trazem alguma confusão; a monotonia favorece uma vida cristã pouco comprometida e as comunidades instalam-se na mediocridade; falta o entusiasmo e o empenho… O quadro geral é o de um certo sentimento de frustração, porque o mundo continua igual e a esperada intervenção vitoriosa de Deus continua adiada.

O Apóstolo São Lucas avisa que o projeto de salvação e libertação que Jesus veio apresentar passou (após a ida de Jesus para junto do Pai) para as mãos da Igreja, animada pelo Espírito Santo. A construção do “Reino” é uma tarefa que não está terminada, mas que é preciso concretizar na história e exige o empenho contínuo de todos os crentes. Os cristãos são convidados a redescobrir o seu papel, no sentido de testemunhar o projeto de Deus, na fidelidade ao “caminho” que Jesus percorreu.

A ressurreição e ascensão de Nosso Senhor Jesus nos garante que uma vida vivida na fidelidade aos projetos do Pai é uma vida destinada à glorificação, à comunhão definitiva com Deus. Quem percorre o mesmo caminho de Jesus subirá, como Ele, à vida plena. A ascensão de Jesus nos recorda, sobretudo, que Ele foi elevado para junto do Pai e nos encarregou de continuar a tornar realidade o seu projeto libertador no meio dos homens nossos irmãos.

Caros irmãos,

A Segunda Leitura(cf. Ef. 1,17-23) nos fala da força de Deus, revelando-se na exaltação do Cristo. A oração do autor se transforma em proclamação dos “magnalia Dei” em Cristo. Deus o ressuscitou e o fez cabeça da Igreja e do universo. A Igreja é o seu “corpo”, ela o torna presente no mundo, ela é a presença atuante de Cristo no mundo, como nos apresentou o Salmo Responsorial quando exulta a presença de Deus diante dos povos de toda a terra.

A Carta aos Efésios é, provavelmente, um dos exemplares de uma “carta circular” enviada a várias igrejas da Ásia, numa altura em que São Paulo está na prisão (em Roma?). O seu portador é um tal Tíquico. Estamos por volta dos anos 58/60. Alguns vêm nesta carta uma espécie de síntese da teologia paulina, numa altura em que a missão do apóstolo está praticamente terminada na Ásia. Em concreto, o texto que nos é proposto aparece na primeira parte da carta e faz parte de uma ação de graças, na qual Paulo agradece a Deus pela fé dos Efésios e pela caridade que eles manifestam com todos os irmãos na fé.

Dizer que Cristo é a “cabeça” da Igreja significa, antes de mais, que os dois formam uma comunidade indissolúvel e que há entre os dois uma comunhão total de vida e de destino. Significa, também, que Cristo é o centro à volta do qual o “corpo” se articula, a partir do qual e em direção ao qual o “corpo” cresce, se orienta e constrói, a origem e o fim desse “corpo”; significa, ainda, que a Igreja/“corpo” está submetida à obediência a Cristo/“cabeça”: só de Cristo a Igreja depende e só a Ele deve obediência.

Na nossa peregrinação pelo mundo, convém termos sempre presente “a esperança a que fomos chamados”. A ressurreição de Cristo é a garantia da nossa própria ressurreição. Formamos com Ele um “corpo”, destinados à vida plena. Esta perspectiva tem de dar-nos a força de enfrentar a história e de avançar – apesar das dificuldades – nesse caminho do amor e da entrega total que Cristo percorreu.

Dizer que fazemos parte do “corpo de Cristo” significa que devemos viver numa comunhão total com Ele e que nessa comunhão recebemos, a cada instante, a vida que nos alimenta. Significa, também, viver em comunhão, em solidariedade total com todos os nossos irmãos, membros do mesmo corpo, alimentados pela mesma vida.

Irmãos e Irmãs,

A Festa da Ascensão do Senhor está intimamente ligada à Páscoa e a Pentecostes. São Lucas, de propósito, relembra hoje a Ressurreição e volta a mencionar o envio do Espírito Santo. Diante do Cristo ressuscitado e glorioso e na esperança da força do alto, os Apóstolos adoram o Senhor, isto é, fazem uma confissão pública de sua divindade e, tomados de alegria, começam a dar o doce testemunho do Senhor, através dos louvores a Deus.

Vivenciamos hoje uma verdade de fé: a Ascensão do Senhor. Assim, em todos os domingos rezamos com fé na Profissão dos cristãos: “Subiu aos céus, está sentado à direita de Deus Pai todo-poderoso”.

Não que Jesus subiu a um lugar geográfico. A ascensão não celebra a separação de Jesus dos Apóstolos. Pelo contrário, o próprio Senhor vaticinou: “Estarei convosco todos os dias, até a consumação dos tempos”(cf. Mt 28,20).

A Ascensão é para Jesus o coroamento de sua missão neste vale de lágrimas que peregrinamos e se constitui num reassumir da plenitude do poder divino, que ele ocultara nos anos de sua vida terrena. Sentar-se à “direita do Pai” significa ser o Senhor do céu e da terra, e, por conseqüência, de nossas vidas e caminhadas.

Pela Ascensão se une o céu e a terra e a terra e o céu. O elo inquebrantável desta união é a natureza humana e divina de Jesus de Nazaré, verdadeiro Deus e verdadeiro homem. Com a Ascensão de Jesus abrem-se as portas do céu e estende-se o caminho de salvação para toda a carne humana. A Ascensão de Jesus garante para as criaturas um destino eterno, um verniz de salvação.

Meus queridos Irmãos,

Lucas situa a Ascensão perto de Betânia, no Monte das Oliveiras. Vale mais pelo simbólico do que pela indicação geográfica. Para Lucas é uma subida para Jerusalém, onde Jesus se torna o novo templo, é no Monte das Oliveiras, onde começara a Paixão, que ele termina glorioso a sua missão e passa aos Apóstolos a responsabilidade do Reino dos Céus.

Ascensão, festa de alegria, de grande alegria. Em Belém os Anjos anunciaram uma presença física do Senhor. Agora os Apóstolos devem anunciar uma vida nova, plena e definitiva presença do Senhor Ressuscitado no meio da comunidade. É a presença do Senhor a razão da nossa grande e inolvidável alegria.

O Apóstolo, como os anjos e arcanjos, tem uma grande missão que é anunciar e levar a mensagem do enviado, o Cristo que ascendeu de corpo e alma ao céu, levando a sua boa nova, que é de salvação e de vida em Deus.

Meus queridos Irmãos,

Os apóstolos tiveram a experiência de três presenças de Jesus: A primeira presença, assim chamada de ordinária: aquela presença do Jesus histórico, a quem viam com os olhos do corpo, ouviam com os ouvidos, tocavam com as mãos e com quem comeram na mesa. A segunda, uma presença excepcional: a experiência do Jesus Ressuscitado, que aparecia e desaparecia, entrava na sala estando as portas fechadas por medo dos judeus, dando sempre provas de que era Ele mesmo e não outro. E a terceira presença: a presença invisível – experiência da comunidade depois da Ascensão. Jesus continua presente e operante, mas já não mais alcançável pelos sentidos, somente pela fé e pela confiança.

Assim, meus caros irmãos, também nós vivemos as três experiências de Jesus de maneira simultânea. A presença ordinária a temos no rosto de nossos irmãos, a quem amamos e a quem transmitimos a alegre boa-nova da salvação. A presença excepcional a temos nos sacramentos, particularmente, na Eucaristia, em que a fé nos declara que Jesus Deus e homem está verdadeira e realmente presente. A presença invisível a temos na comunhão dos Santos, essa verdade de fé que nos ensina que formamos todos uma só e única comunidade entre nós e nós com Deus.

Assim, Ascensão é uma festa bonita em que, nem mesmo o afastamento provisório e temporário de Jesus, nos entristece, porque pela Ascensão Jesus está em nosso meio pleno de comunhão, comunhão do céu com a terra e da terra com o céu. Festa magna que inicia um novo tempo para a Igreja em que é anunciada a universalidade da salvação e da redenção.

Todos os povos, todas as gentes podem encontrar a santidade no nome de Jesus. Começa, assim, o tempo da Igreja. Cristo parte, mas permanece. A Igreja é o seu corpo e sua plenitude. Os Cristãos são as testemunhas vigilantes da morte, ressurreição e glória do senhor. Começa do tempo do despertar e crescer as sementes do Reino. Todos somos convidados e enviados para a missão de sermos testemunhas do Ressuscitado.

Prezados irmãos,

A tristeza torna o rosto sombrio e as lágrimas estorvam a vista. Os discípulos conheceram a tristeza e a decepção, não podem reconhecer o Ressuscitado que caminhava ao seu lado. Serão necessários os olhos da fé para nomear Aquele que está vivo, para se alegrar n’Ele, para O anunciar. A fé, assim, não mergulha na nostalgia. Se ela se volta para o passado, é para fazer memória. Orienta-se, sobretudo, para um futuro que já não será mais como antes. Qual é, então, o segredo dos discípulos para que estejam alegres depois da partida do seu Mestre? Muito simplesmente a sua presença, mas “de outro modo”. Doravante, Ele está sempre com eles; receberam a força do Espírito Santo, atualizam a sua mensagem, fazem memória dos seus gestos, tornando-O realmente presente no meio deles. Eles vivem na alegria porque sabem que Ele está com eles até ao fim dos tempos e que sem Ele nada podem fazer. Ele prometeu, Ele manterá as suas promessas!

Caros irmãos,

O sentido desta Solenidade da Ascensão encontra-se na relação indestrutível que se estabelece entre Deus e a humanidade na pessoa do Filho. Ele é a chave de acesso ao Pai. A pergunta que fica quando lemos esses textos é: que significa a ascensão do Senhor? Diz respeito somente a Jesus e sua condição de Filho de Deus? Representa somente seu retorno para junto de Deus, para assumir “seu lugar” de Filho no seio da Trindade?

A resposta a essas duas últimas questões é não. Os textos não se referem somente a Jesus, mas dizem respeito também a nós e ao nosso destino último. Todas as leituras fazem referência a Jesus desde seu ministério público, passando por sua paixão e ressurreição, até chegar a esse momento de elevação, e toda a sua vida narrada nos textos sagrados tem relação conosco.

Uma vez que assumiu a condição humana pecadora e, por solidariedade, se fez pecado por nós, ele, ao assumir seu lugar soberano no céu, não o faz apenas segundo sua condição de Filho de Deus, mas também de filho da humanidade. Portanto, nele estamos também nós junto ao Pai. Celebrar a Ascensão do Senhor é celebrar a elevação de nossa humanidade. É celebrar nosso acesso à vida junto de Deus por Jesus Cristo. Que alegria para toda a humanidade!

Caros irmãos,

A ascensão de Jesus e, sobretudo, as palavras finais de Jesus, que convocam os discípulos para a missão, sugerem a nossa responsabilidade na construção desse mundo novo onde habita a justiça e a paz; sugerem que a proposta libertadora que Jesus fez a todos os homens está agora nas nossas mãos e que é nossa responsabilidade torná-la realidade; sugerem que nós, os seguidores de Jesus, temos de construir, com o esforço de todos os dias, o novo céu e a nova terra. A alegria que brilha nos olhos e nos corações desses discípulos que testemunham a entrada definitiva de Jesus na vida de Deus tem de ser uma realidade que transparece na nossa vida. Os seguidores de Jesus, iluminados pela fé, têm de testemunhar, com a sua alegria, a certeza de que os espera, no final do caminho, a vida em plenitude; e têm de testemunhar, com a sua alegria, a certeza de que o projeto salvador e libertador de Deus está a atuar no mundo, está a transformar os corações e as mentes, está a fazer nascer, dia a dia, o Homem Novo.

Que todos nós, nesta festa que é de Benção e de Missão, possamos nos transformar em fonte de benção para o irmão, para o próximo, especialmente para o excluído. Isso é explicitado no rito final da Missa. Dá-se a benção e realiza-se o envio: “Ide em Paz e o Senhor vos acompanhe! Graças a Deus!”. Também minha vida será uma ação de graças.

 

Padre Wagner Augusto Portugal

28 de maio de 2022
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A Ascensão de Cristo

escrito por Padre Wagner Augusto Portugal

“O Senhor se eleva entre aclamações”.

  1. É motivo de profunda alegria para a Igreja toda, e também para a Humanidade, a celebração litúrgica do mistério da Ascensão de Nosso Senhor Jesus Cristo, o qual foi exaltado e glorificado solenemente por Deus. A Liturgia aplica hoje a Cristo, que retorna ao Pai, as exultantes palavras que salmista dedica ao Eterno: “Deus eleva entre aclamações, o Senhor, entre clamores de trombetas. / Cantai ao Senhor cantai ao nosso rei da terra inteira, reina o Senhor sobre as nações. / Deus está sentado em seu trono santo” (Sl46/47, 6-9).

Neste “mistério da vida de Cristo” nós meditamos, de uma parte, a glorificação de Jesus de Nazaré, morto e ressuscitado, e, de outra, a sua partida desta terra e o seu retorno ao Pai.

Tal glorificação, também no seu aspecto cósmico, é posta em realce por São Paulo, que nos fala da extraordinária grandeza do poder de Deus em relação a nós, manifestado em Cristo.

“Quando o ressuscitou dos mortos e O fez sentar nos Céus, à Sua direita, acima de todo o Principado, Potestade… e acima de todo o nome que se evoca não só neste mundo como também no futuro” (Ef 1, 20 s.)

A Ascensão de Cristo representa uma das etapas fundamentais da “História da salvação”, isto é, do plano de amor misericordioso e salvífico de Deus para com a humanidade. Com a sua clara e profunda limpidez, São Tomás de Aquino, nas suas meditações sobre os “mistérios da vida de Cristo”, salienta de modo admirável como a Ascensão é causa da nossa salvação, sob um dúplice aspecto: da nossa parte, dado que a nossa mente se move para Cristo, com a fé, a esperança, e a caridade; da Sua parte, enquanto elevando-Se Ele nos preparou o caminho para também nós subirmos ao Céu; porque Ele é a nossa Cabeça, é preciso que os membros O acompanhem lá, onde Ele os precedeu: “A Ascensão de Cristo é diretamente causa da nossa ascensão, dando quase início a esta na nossa Cabeça, à qual é necessário que os membros estejam unidos” (Summa Theol. III, 57, 6, ad 2).

  1. A Ascensão é não só a glorificação definitiva e solene de Jesus de Nazaré, mas também o penhor e a garantia da exaltação, da elevação da natureza humana. A nossa fé e a nossa esperança de cristãos hoje são reforçadas e corroboradas, dado que somos convidados a meditar não só na nossa pequenez, na nossa fragilidade e na nossa miséria, mas também naquela “transformação”, ainda mais admirável da mesma criação, realizada por Cristo em nós quando estamos a Ele unidos mediante os sacramentos e a graça. “Nós comemoramos e liturgicamente celebramos o dia, em que a humildade da nossa natureza foi elevada em Cristo acima de todas as ordens celestes — diz-nos São Leão Magno —, acima de todas as hierarquias angélicas, para além da altura das Potestades, até ao trono de Deus Pai. Ora, neste contexto de operações divinas nós estamos estabelecidos e edificados: assim de modo mais maravilhoso se tornará a graça de Deus, quando… a fé não duvida, a esperança não vacila, a caridade não enfraquece. Esta é verdadeiramente a força dos grandes espíritos, esta é a luz das almas autenticamente fiéis: acreditar sem hesitação naquele que não aparece aos olhos do corpo e volver o desejo para lá, onde não se pode dirigir o olhar” (SermoLXXIV, 1: PL54, 597).
  2. No momento em que Jesus se separa dos Apóstolos, dá-lhes o mandato de O testemunharem em Jerusalém, em toda a Judeia e Samaria e até aos extremos confins da terra (cf. At. 1, 8) e de anunciarem a todos os povos “a conversão e o perdão dos pecados” (Lc. 24, 47).

A Solenidade da Ascensão, neste Ano Jubilar da Redenção, portanto, é para todos nós um veemente convite a um singular empenho de penitência e de renovamento interior, é um apelo universal à conversão. Pois — como escrevi na Bula de promulgação do Ano Santo — todos somos pecadores, todos temos necessidade daquela “profunda transformação de espírito, de mente e de vida que na Bíblia se chama precisamente metánoia, conversão. E esta atitude é suscitada e alimentada pela palavra de Deus que é revelação da misericórdia do Senhor (cf. Mc. 1, 15), se realiza sobretudo mediante os sacramentos e se manifesta em múltiplas formas de caridade e de serviço aos irmãos” (Aperite portas Redemptori, 5).

É este o rico significado litúrgico, teológico e espiritual da presente Solenidade. Desejo portanto fazer minhas as palavras que São Gregório Magno, dirigia, nesta ocasião, aos fiéis de Roma reunidos em São Pedro: “Com todo o coração devemos seguir Jesus para onde sabemos pela fé que Se elevou com o seu corpo. Deixemos os desejos da terra: nenhum dos ligames desta terra nos satisfaz, a nós que temos um Pai nos céus… Ainda que estejais aturdidos no embate das ocupações, lançai desde hoje na pátria eterna a âncora da esperança. Não procure, a vossa alma, senão a verdadeira luz. Ouvimos que o Senhor se elevou ao céu: reflitamos com seriedade naquilo em que acreditamos. Apesar da debilidade da natureza humana, que nós prende ainda à terra, o amor nos atraia para o seu seguimento, pois estamos bem certos que Aquele que nos inspirou tal desejo, Jesus Cristo, não há-de desiludir-nos na nossa esperança” (In Evangelium Homilia XXIX, 11: PL 76, 1219).

Padre Wagner Augusto Portugal

22 de maio de 2022
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Sou Wagner Augusto Portugal. Graduado em Direito Civil, Mestre em Direito Canônico e doutorando na mesma área de estudo, com 24 anos de experiência em Direito Público e Direito Canônico.

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